Por Márcia Oliveira, diretamente de Luanda
A capital angolana, Luanda, está vivendo dias atípicos com a visita do Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Desde sua chegada em 2 de dezembro de 2024, a cidade se transformou em um palco de preparativos intensos e medidas de segurança rigorosas, afetando diretamente a vida cotidiana dos seus habitantes.
Luanda em Suspensão e Melhorias de Fachada
Com avenidas principais fechadas e um feriado decretado às pressas, o cotidiano de Luanda parou ontem, dia 02, e está parado hoje, dia 03. Benguela vai parar amanhã, dia 04. Na Luanda agitada de sempre, o comércio, que normalmente pulsa com a energia vibrante dos mercados locais, está em silêncio. As escolas e repartições públicas fecharam suas portas, e o trânsito, geralmente caótico, deu lugar a ruas vazias, todas medidas para garantir que a visita de Biden transcorra sem contratempos.
Para muitos luandenses, essa paralisação é um lembrete do poder que eventos internacionais têm de interromper a vida comum. “Estamos fechados em casa, ilhados”; “não há multi caixas para se fazer nem transferência” comentaram meus amigos Zé e Ká; estamos mesmo em casa, no município de Belas, em Luanda, esperando, como todo luandense, o ‘senhor idoso poderoso’ nos deixar sair e voltarmos à cena cotidiana. Assim, “O velhote João Bidón (sic) chegou com ... cavalaria aérea” afirmou um angolano em sua página de quase mil seguidores no Facebook.
O fato concreto é que Luanda foi preparada, de fachada, para receber os visitantes norte-americanos como se atesta na foto:
O Corredor de Lobito e a Geopolítica
Biden declarou-se “orgulhoso” por ser o primeiro Presidente dos EUA a visitar Angola. “Estados Unidos estão totalmente com África e com Angola” afirmou ainda o presidente em fim de mandato.
No entanto, no coração desta visita está o Corredor de Lobito, também conhecido como “Caminho-de-Ferro de Benguela (CFB).
Amanhã, dia 04 de novembro de 2024, Biden se encontrará com diversos líderes africanos em Lobito, a cidade costeira angolana que se tornou um ponto focal para discussões sobre o desenvolvimento econômico e infraestrutura no continente. Este encontro destaca o Corredor de Lobito, um ambicioso projeto de 1.300 quilômetros que busca integrar Angola com seus vizinhos, promovendo o comércio regional e oferecendo uma alternativa estratégica à Nova Rota da Seda da China. Com um investimento de US$ 5 bilhões, este corredor não é apenas uma via de transporte, mas também um símbolo do interesse renovado dos EUA em fortalecer sua presença econômica na África.
Esperanças e Realidades
Enquanto líderes africanos se reúnem em Lobito (Benguela, Angola) para discutir o futuro econômico da região, a população observa com uma mistura de esperança e ceticismo. Há expectativas de que a visita de Biden possa trazer investimentos e oportunidades, mas também há uma consciência crescente sobre os sacrifícios imediatos impostos aos cidadãos comuns.
A verdadeira questão que muitos se perguntam é se os benefícios prometidos pelo Corredor de Lobito e a presença americana se traduzirão em melhorias tangíveis para o povo angolano. Para os moradores de Luanda, o que percebe-se é que a visita de Biden é um lembrete poderoso do equilíbrio delicado entre diplomacia internacional e as necessidades locais.
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